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Minha pequena florzinha - 05 A surpresa

Minha pequena florzinha - 05 A surpresa.Passei o final de semana sem ao menos pensar nela, o único momento em que peguei pensando, foi imaginando que nunca mais encontraria novamente aquele sorriso. Passei o sábado como sempre, acordei cedo, fui a Teodoro Sampaio, batemos bastante papo, em seguida fui para casa almoçar e fazer todos os preparativos para ensaiar à tarde. Todo sábado eu fazia praticamente um ritual, afinava as guitarras, tocava por uns 10 minutos, afinava novamente e guardava. Verificava se tudo estava funcionando, pegava duas palhetas, colocava a que estava utilizando no bolso direito e uma reserva no esquerdo. Sim, sou um cara totalmente metódico, frio e calculista, odeio coisas fora de hora e odeio desistência quando algo está marcado. Guardava as duas guitarras em seus respectivos bags, já com a correia encaixada em cada uma, colocava a alavanca no compartimento do bag e descia tudo para a sala. Acendia um cigarro, fumava assistindo um pouco de tv e depois seguia em direção a casa de meu irmão, onde enrolávamos mais um pouco antes de partirmos para o sacrificante e massante ensaio.
Isso sem contar as horas de dedicação que ocorriam durante a semana, sempre chegava em casa por volta das 18 horas e treinava até às 22 ou 23 horas. Haviam noites em que ficava treinando exclusivamente uma música ou até mesmo um único trecho. Amava fazer isso, sempre que resolvi tocar com banda, me dediquei de corpo e alma, tentava ao máximo tirar as músicas em seus minuciosos detalhes, inclusive os solos, se bem que muitos deles eu não era capaz de executar.
Ensaiamos, jantamos juntos e voltei para minha casa, domingo seria outro dia de rotina básica, lavar roupa logo cedo e passar a tarde no computador, estudando guitarra e algo na área de informática, fora assistir a pelo menos um filme. Eu sempre tive uma rotina que muitos diriam ser extremamente chata ou até mesmo irritante. O meu modo de lidar com a rotina era o mais massante, mania, talvez coisa de gente doente, mas não podia deixar de fazer minhas coisas, quando isso ocorria, eu chegava até mesmo a ficar estressado.
Chegou o domingo, fiz tudo que tinha para fazer e consegui um tempo para pensar na vida. Sim, pensar em minha vida bagunçada, conturbada, estressante e tudo o mais. Claro que muitas vezes exagero um pouco na reclamação, mas faz parte da vida de todos que conheço. Quase no final do domingo me peguei pensando na florzinha, cogitei a hipótese de encontrá-la no messenger ou talvez no orkut, foi em vão, não encontrei uma alma sequer no messenger. Me cansei de tudo e fui dormir, afinal de contas, segunda-feira sempre é um dia entediante, mas é um dos dias que mais gosto de trabalhar porque rendo muito no início da semana e vou me cansando no decorrer dela, diferente da maioria das pessoas que odeiam a segunda.
Trabalhei muito na segunda-feira, fiquei estressadíssimo, mas muito estressado mesmo, não me recordo o motivo, mas provavelmente foi alguma cagada executada por pessoas extremamente competentes. Voltei para casa pilotando como um louco, apesar que não era muito possível fazer isso com uma motocicleta de 125 cilindradas, mas fiz o que pude, seria possível me machucar no meio dessa brincadeira, era o que importava de fato. Logo que adentrei minha residência, não lembro porque, mas pela primeira vez nesse ano não liguei logo de cara o computador, fiz diversas outras coisas antes de me sentar para checar meus e-mail. É, isso poderia ser considerado um fato histórico, talvez até um prelúdio do fim do mundo. Mas acredito que o estresse foi tão grande, que consegui ficar longe do computador por pelo menos 2 ou 3 horas.
Depois de me alimentar bem, fui para o quarto, liguei o monitor, o computador já estava ligado. Fui checar meus e-mails, respondi alguns, conectei o messenger e tive uma surpresa agradável. Assim que o abri, uma janela de conversa "pulou" a minha face, um sentimento de esperança bateu forte em meu peito nesse momento, poderia ser ela. Fui averiguar quem estava a minha procura, mesmo não tendo conectado durante o dia.
- Oi - foi a única palavra deixada um pouco mais de uma hora antes de eu me conectar. Pensei que ela apenas tivesse deixado um oi e partido, mas para minha surpresa ela estava conectada ainda. Respondi com um oi e chamei-a pelo sobrenome, para parecer um pouco mais formal, na realidade, para não demonstrar alguma intimidade.
- Tentou adivinhar se eu estava aqui? - Respondi com um ar brincalhão.
- Oi meu amor, que saudade. - Ela respondeu com um tom de carinho.
- Também estou morrendo de saudades linda. Mas a última vez que nos vimos, você quase não falou nada. - Reclamei com um tom não agressivo, sem cobrança.
- Eu estava com vergonha.
- Ué, mas por que? - Soltei uma risada no final da frase, esperei por uma resposta mas o que chegoua mim foi uma indagação.
- Você vai com a tia, no domingo, na casa da vó?
- Não sei não, verei ainda, mas é provável que não. - Ri para não decepcioná-la, mas estava um tanto quanto acanhado de ir até a casa de sua vó, apesar da enorme vontade de conhecer os pais de minha irmã.
- Por favor. Ah vai. - Ela e seu jeitinho doce e meigo para convencer alguém.
- Hum... Não pede assim não, da última vez você me fez sair de casa só para te dar tchau. - Ri compulsivamente.
- Mas eu quero te ver. - Nessa hora não sabia o que responder, apenas enviei uma risada, fiquei meio sem ação. Mas acabei respondendo.
- Sei lá, acho muita invasão de minha parte.
- Claro... Que não!
- Você também queria me ver na sexta mas quase não falou comigo. - Não foi uma reclamação de fato, eu queria ver o que ela responderia.
- Falei sim.
- Ah, mas quase nada.
- Por favor, quero te ver. - Uma guinada, quase um desespero, isso estava praticamente me assustando.
- Calma, calma, vai saber, domingo ainda está longe. Vai que tenho que trabalhar. - Respondi de forma um pouco séria, mas aquele sério que uso somente para garotas. Ainda brinquei em seguida. - Quer me ver? Espere que te mandarei uma foto.
- Então me liga. - Fiquei um pouco assustado de verdade agora. Não acreditava naquilo que lera, afinal de contas, nem mesmo seu celular ou telefone eu tinha e não achei que teríamos muito o que conversar.
- Vou ter que sair agora meu amor, me liga no celular. Estou na lan.
- Ligo, mas só se for ficar por cinco minutos.
- Tá bom, você tem meu celular? - Respondi que não, e mal enviei a resposta e recebi seu celular em outra mensagem.
- Beijos. Fui. Te amo. - Não, não pensem como eu não pensei, pensem como eu pensei. Eu pensei que fora um modo carinhoso de tratar um amigo de quem ela gostou muito, não vi segundas intenções nesse momento, nem mesmo parei muito para pensar nisso. Mentira, até que cheguei a cogitar a hipótese mas logo descartei-a porque não havia sentido. Achei que a conversa acabara naquele momento, mas ainda indaguei se ela falaria no celular em meio a rua, era um pouco tarde, não achava isso muito legal.
- Mas você sairá na rua falando no celular?
- Claro! Então tá, beijos. Me liga meu anjo.
- Estou ligando.
- Está bom, beijos.
A insistência fora tão grande que resolvi ligar, também porque seria agradável continuar nossa conversa falando do que escrevendo. Não que estivesse cansado, não me cansava de falar com ela no messenger, mas um telefone seria bacana naquele momento ao invés de ficarmos teclando algumas frases desconexas. E também seria um teste para descobrir se sua timidez era somente cara a cara ou sempre.
Liguei no celular dela, ouvi mais barulho que qualquer outra coisa, no fundo um alô fraco e tímido, não tão tímido quanto esperava. Parecia que conseguia ouvir seu sorriso, era uma sensação engraçada, conversamos muito pouco, praticamente nada. Ela precisava desligar porque iria pegar o ônibus, então me passou o telefone de sua casa e disse para eu ligar assim que ela chegasse, ainda comentou que levaria uns vinte minutos para chegar. Voltei a fazer minhas coisas no computador, aguardando os vinte minutos para voltar a falar com ela, mas agora em sua casa. Não fiquei ansioso mas queria muito conversar mais com ela e aguardei o horário sem ao menos olhar para o relógio, mesmo estando na frente do computador, parecia que havia uma sincronia de outro mundo, pois quando passaram exatamente os vinte minutos algo me chamou atenção para o rádio relógio.
Peguei o telefone e disquei calmamente os números que ela me passou, o telefone tocou de quatro a cinco vezes antes de alguém atender, normalmente, no terceiro toque eu desligaria, mas aguardei, afinal de contas não sabia em que local da casa ela estaria e onde o aparelho telefônico estava. Quando o sexto toque seria anunciado, alguém atendeu o telefone, era ela, novamente tive a sensação de poder ouvir seu sorriso no telefone. Agora sim seria possível ter uma conversa civilizada, pois o silêncio era profundo ao fundo, era possível ouvir nitidamente sua voz, diferente do momento em que liguei no celular. Perguntei se a volta tinha sido tranquila, ela respondeu que sim, comentei que ela chegou rapidamente mesmo, que achava que seria uma viagem um pouco mais longa que o comentado por ela. Olhei novamente para o relógio e eram quase 23 horas, já imaginei que não poderia demorar muito pois estávamos no início da semana e teria que trabalhar no dia seguinte. Não comentei isso com ela pois imaginei que não tivéssemos muitas palavras para trocarmos, mas estava enganado, aquela conversa seria nossa primeira conversa longa.
Conversamos sobre diversas coisas, não tanto referente à nossos gostos, mas algumas coisas me atordoaram um pouco, como sua religião, ela me explicou que era evangélica, uma das raças mais temidas por minha alma. A vida inteira sempre fugi de pessoas que se denominavam evangélicas, mas havia algo diferente nela que me fez continuar nossa conversa a ponto de eu não ligar para esse detalhe. Contou que estava um pouco afastada da igreja mas que logo mais voltaria a frequentá-la, que ia muitas vezes durante a semana e nos finais de semana. Devia ter me preocupado com essa parte, isso poderia vir a causar possíveis problemas no futuro. Continuamos a conversar, até o momento em que ela comentou sobre uma música, queria que eu a ouvisse a qualquer custo, fui procurar no youtube. Encontrei a música chamada "Pensando em você", de um grupo gospel chamado "Pimentas do reino", fui ouvir com o pé atrás, já imaginando que seria algo que não me agradaria. Para minha surpresa ela era praticamente uma declaração de amor, uma letra que possuia uma história que se encaixara perfeitamente à nossa. Fiquei um pouco perdido, meio atordoado, pensei novamente que estava confundindo as coisas, que havia interpretado de forma incorreta o que ela quis dizer com a música.
- Bacana a música, para quem é? - Questionei-a.
- Para você. - Ela respondeu e ficou em um silêncio profundo mas podia sentir seu sorriso em sua voz.
- É... - Não sabia o que dizer. - Mas é realmente o que estou pensando? - Perguntei com um ar de verdadeira dúvida.
- Sim. Não ficou claro?
- Sim, ficou, mas se coloque em meu lugar, você tem namorado, nunca iria pensar que você poderia estar a fim de mim.
- É, mas já te expliquei a história do meu namoro. - Ela respondeu com um pouco de rispidez.
- Verdade, mas não imaginaria isso nunca. Se eu fosse bonito, até poderia pensar nisso. - Ri para descontrair.
- Mas você é bonito. Você é lindo.
- Você também é muito linda. - Fiquei desconcertado, desnorteado, não sabia o que responder a não ser retribuir o elogio, mesmo sendo sincero, isso soava estranho.
- Não esperava mesmo isso, apesar que o "te amo", quando você me deu tchau no messenger, ficou bem estranho. Fiquei pensantivo mas não levei para esse lado, imaginei que você apenas estivesse sendo carinhosa, aquela coisa de menina.

É, ela ficou interessada em mim, não sei exatamente o porque, o real motivo, mas parecia uma pequena paixão brotando dentro de seu coração. Ficamos conversando por várias horas ainda, chegamos às 3 horas da manhã e eu comentei que precisava dormir. Com muito custo consegui desligar, o telefonema fora longo para duas pessoas que mal se conheciam mas que estavam interessadas um no outro, talvez isso tenha ajudado em muito para essa ligação durar tanto tempo. Prometi a ela que ligaria na noite seguinte, para conversarmos mais. Fui dormir ansioso com o dia seguinte, não conseguiria viver o dia como normalmente fazia, com certeza ficaria ansioso para conversar novamente com ela.
Próximo episódio - 06 A casa da avó.
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